A utilidade do Ser Humano está no seu vazio!
- Natashia Moraes
- 13 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
“A utilidade do copo está em seu nada.
Escava-se a argila para se modelar vasos
A utilidade do vaso está em seu nada.
Abrem-se portas e janelas para que haja um quarto,
A utilidade do quarto está em seu nada.
Por isso, o que existe deve ser possuído,
E o que não existe é para ser útil”
Tao te King
A utilidade do copo está em seu espaço vazio, assim afirmou Lao Tsé Tung na antiga China há 10 mil anos atrás. O copo é um objeto que apenas tem utilidade porque tem um espaço oco dentro. Não fosse este espaço vazio, não seria um copo. Da mesma forma o carro, o vaso sanitário, a colher e o garfo, o instrumento de música... O que parece dar a forma não é a matéria que compõe o objeto, como supervaloriza nossos sentidos, mas sim, a não matéria que o preenche.
O Taoísmo compreendia o mundo assim como a física quântica o descreve hoje. Quiçá já sabiam desde aquela época que os átomos eram também feitos de muito espaço vazio e que aí se encontrava sua utilidade. A metáfora enigmática do texto taoísta já revelava que o ser humano é mais útil e eficiente quando se considera seu espaço vazio... É no invisível e intocável do nosso ser onde reside a força que move nossa máquina viva, é por onde flui a criatividade que inspira a atuação da máquina no plano das formas. É no nosso espaço vazio onde reside a verdade de nossa utilidade.
Toda a prática ancestral de todos os povos sempre nos apontou o caminho do vazio e ainda assim seguimos buscando as formas do mundo a fora! Valorizar o vazio é reconhecer a Fonte Criadora que tudo conecta e que tudo conduz. Perceber o espaço vazio é estar conectado com o Todo. Mover no espaço vazio é o caminho do Tao! O caminho do coração! É no espaço vazio que respiramos a vida e permitimos que os milagres se expressem!
Mas onde encontramos este espaço vazio e como dar—lhe utilidade, se para nossa mente racional esta conversa está prá lá de abstrata?
Quando focamos a atenção no ar que entra pelo espaço vazio dentro de nossas narinas, nos preenchemos de vida! A respiração conecta todas as formas dentro do vasto abismo da criação. Focando a atenção na respiração estamos automaticamente conscientes do espaço que normalmente não habitamos, por conhecê-lo ou por acreditar que a forma que se vê é mais real e interessante!
“O que existe é para ser possuído! E o que não existe, para ser útil”
A consciência possui a forma e assim lidera o corpo. Um corpo sem consciência não tem vitalidade, não escolhe nem atua, não ama, não interage, não vive ! Ocupa espaço mas não tem utilidade! A utilidade das formas de vida está em seu movimento, em sua troca criativa de amor entre as outras criaturas!
“Escava-se a argila para modelar vasos. A utilidade do vaso está em seu nada.”
Ao cavar nossa densidade, retiramos o que não nos serve e abrimos espaço para a utilidade criativa se manifestar em nós. Cavamos a nossa argila abrindo espaço para o ar entrar e vitalizar nossa matéria! Ao respirar com atenção cavamos pensamentos e emoções que bloqueiam a expressão livre da nossa presença!
Seres humanos em plena presença, conectados seus espaços vazios são mais úteis. Neste estado de presença há amor, alegria e harmonia com todas as coisas. Através do nosso espaço vazio nos conectamos com toda a criação, porque o vazio contém todas as coisas. Conectados com o todo temos acesso às infinitas possibilidades e a criatividade flui. Co-criar com o todo e moldar as formas da matéria é a nossa utilidade! Mas para sermos úteis é necessário que estejamos em silêncio e que saibamos acessar o poder da criação. É necessário conhecermos nosso espaço vazio.
Quando respiramos com atenção, mergulhamos em nosso vazio, transformamos a consciência e lapidamos nossa forma.